quarta-feira, 6 de janeiro de 2016




Se há coisa que eu gosto, é de ter nascido numa casa de benfiquistas. Desde cedo aprendi que o Benfica é que é. E sim, talvez seja uma das poucas coisas que nunca questionei. Faz hoje dois anos que Eusébio não conseguiu ver o enorme cortejo fúnebre que o seguiu, feito de gente que realmente o amou, talvez por ser grande, talvez pela quantidade de vezes que terá feito renascer em nós o orgulho na nação. Este foi o texto que escrevi neste dia terrivelmente especial. Passaram dois anos, mas rei que é rei, não precisa de estar entre nós para ser grande,... sempre. Saudades de Eusébio, agora do seu sorriso, de o ver e de o saber entre nós, a torcer pelo Benfica, connosco, sempre! Lembro-me bem da temporada de invencibilidade do Benfica após a sua morte, e de sentir que seria ele a dar uma mão, naquele pedaço de céu que recebe o Estádio da Luz.



AINDA O EUSÉBIO, O PANTEÃO E A NOSSA FALTA DE CULTURA, "BENZÓSDEUS"

Não há nada mais triste do que uma pessoa triste ter que se irritar de repente, por parecer que alguém lhe quer tirar o direito de sentir um momento, como se alguém tivesse o direito de desviar as nossas emoções.
Aconteceu-me hoje ir para o trabalho, quando na verdade me apetecia ir até à Luz, tirar aquela fotografia extraordinária à estátua do Eusébio coberta de cachecóis de algumas "nações", que era coisa que me tinha comovido de facto.
Estava eu a conduzir, mais engarrafada nestes pensamentos do que no trânsito mais ou menos lento, quando me chega a notícia que me revela que, afinal, Eusébio foi um homem bom mas inculto. Não sei se ser culto será pôr uma mancha negra no sentimento de um povo no momento em que ele sente a tristeza de um amor que parte. Não sei o que é cultura, de facto. E eis que me sinto de repente mais feliz, porque Eusébio também não sabia o que era cultura porque, como eu e como a maioria dos portugueses, nunca pisou a bandeira que anuncia este país, nunca deixou multas de estrada para o estado pagar, nunca teve segurança policial à porta com o dinheiro dos nossos impostos, nunca sustentou fundações com dinheiro previsto no orçamento de estado,... nunca foi culto, portanto!, nem ele, nem eu, nem a maioria dos portugueses.
Então estamos uns para os outros, eu, o Eusébio e a maioria dos portugueses, e já que nalgumas coisas ainda parece que se cumpre, de vez em quando, a vontade de um povo, que ele vá para o Panteão, aproveitando a morte da nossa Amália, que fez rever as disposições legais que regulamentavam as entradas vitalícias dos ilustres do nosso Portugal.
Na verdade, até Amália, apenas se sepultavam no Panteão as personalidades mais distintas da política e da literatura, gente de inestimável valor mas tantas vezes tão distantes do nosso quotidiano, dos nossos gostos e dos nossos afectos. Das duas vezes que visitei a Igreja de Santa Engrácia, apenas o túmulo de Amália se encontrava coberto de flores, um pouco como a sua própria casa... e os outros, tão despidos de ornamentos, como se se tivessem esquecido de fazer a boa acção do dia... Por isso, que Eusébio lhe faça companhia, como o futebolista que será sempre falado às gerações vindouras, como o homem que tantas alegrias deu a um povo quase sempre triste.
E que os Presidentes da República continuem a ir para lá também em devida altura, não sei se tanto pelo cargo que ocuparam como pelo direito que adquiriram pelo facto de a obra de se lhes pôr tento na língua se assemelhar a uma obra de Santa Engrácia...

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