tag:blogger.com,1999:blog-54033783435884165702024-02-19T08:09:36.038+00:00De Prosa em PopaAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.comBlogger56125tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-29586208130508494252018-05-06T05:34:00.000+01:002018-05-06T05:34:02.051+01:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXFC374L3FtPG8mzolSASL_QLMqpWbpvLCcmXW_HMRyiyRvq8SQAw29UHqJ9kDyRb9_dsbIMpVGzUiPPfuHZdMCy7xrzlpxEgNRS0frZxTm4Jfcg8WuxkCLK7Oeca8RVENPidDDpSh03w/s1600/DSC_0331.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1065" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXFC374L3FtPG8mzolSASL_QLMqpWbpvLCcmXW_HMRyiyRvq8SQAw29UHqJ9kDyRb9_dsbIMpVGzUiPPfuHZdMCy7xrzlpxEgNRS0frZxTm4Jfcg8WuxkCLK7Oeca8RVENPidDDpSh03w/s320/DSC_0331.JPG" width="212" /></a></div>
<br />
<br />
Não sei se vos minto se vos disser que o melhor da Turquia foi o harém de possibilidades que lá deixei. <br />
Como dizia a minha amiga Ju, "vais para o meio daqueles homens que
passam a vida a dar beijinhos uns aos outros, que bebem leitinho e andam
o dia todo de um lado para o outro, de pulseiras de contas na mão."<br /> Verdades. Tudo verdades. <br />
Não vou dizer que os homens turcos são isto ou são aquilo. Aliás,
quanto mais viajo, menos me sinto capaz de definir os povos dos sítios
por onde passo, porque os outros podem ser tudo, assim como nós. <br /> Vou concluindo ao longo desta travessia que, se viajo, é muito mais para saber de mim do que para saber dos outros. <br /> A diferença é uma coisa irresistível. A diferença, a percepção da diferença, a surpresa da diferença. <br />
Estar a sós com o mundo a desfilar à minha frente,ser chamada a sentir
coisas e dar comigo a responder à diferença. Não há nada mais excitante
do que isso. E aqueles homens que bebem um leitinho que se chama
"ayram", que me põem a beber uns quatro jarrinhos de "ayram" por dia,
não podem ver uma mulher que se faça acompanhar por si mesma, que logo
lhe prometem a melhor das companhias. <br /> Divirto-me a ver como me
abordam, achando talvez que a minha solidão é mais um apelo a convites
do que uma forma confortável de estar comigo mesma. <br /> Trago nas narinas as memórias fortes e doces do bazar das especiarias,... droga pura.<br />
Estou fantasticamente baralhada com tudo o que me acaba de acontecer, e
talvez não vos minta se vos disser que o melhor que trouxe da Turquia
foi o encontro com Gora.<br /> Gora nasceu no Bangladesh há quarenta e um
anos, tem uma daquelas profissões que o tem ensinado a sentir as
pessoas. Quis o caos do acaso que nos encontrássemos uma vez. Quis a
simpatia mútua que marcássemos um encontro, talvez para que o acaso não
nos desencontrasse. <br /> Gora apareceu e eu também. <br /> Comprámos
bolinhas de queijo muito branco e azeitonas achatadas de um verde semi
camuflado. Sentámo-nos nos bancos de pedra junto ao mercado das
especiarias, felizes com a simplicidade do menu. Gora teve o cuidado de
pedir ao vendedor umas colherzinhas de prova, para que a partilha do
repasto se fizesse de uma forma higiénica, como mandam as leis dos que,
preparando a amizade, reconhecem o conforto de uma certa cerimónia. <br />
Não tardou a vinda de uma vendedora. Gora não queria nada mas
ofereceu-lhe a nossa comida. A vendedora, mulher de rosto fatigado,
escondeu o espanto da oferenda e pôs a mãozinha trémula dentro do saco
do queijo. Sem colherzinha. Uma bolinha de queijo. Gora insistiu. Mais
umas três bolinhas de queijo, que se iam esfanicando na boca mais
rapidamente, à medida que os dentes se distraiam da timidez da dentada. <br />
Comovi-me. Dei comigo a ter prazer, à medida que a vendedora comia.
Quando ela se saciou, não consegui deixar de dizer a Gora que ele era
uma pessoa muito especial. <br /> Veio outra vendedora, acompanhada de
uma menina de uns dez anos. Gora repetiu a oferta e, de repente, eu
senti que estávamos ali para tornar melhor o dia de algumas pessoas, não
tanto pela oferta gratuita da comida, mas mais pela possibilidade de
alguém poder acreditar que os dias não têm que ser sempre igualmente
duros.<br /> A menina não quis comer. Pôs os dedos na boca e mostrou-me a falta de dentes. Gora meteu-se com ela. <br /> Quanto custa este porta-chaves do ursinho? <br /> Sete liras.<br /> Isso é muito dinheiro. Dou-te três liras.<br /> A miúda assenhorou o rosto, repuxou os lábios e abanou o rosto firmemente, em modos de "não,não e não"..<br /> Gora sorriu com os olhos e tornou:<br /> E por este porta-chaves do bonequinho, quanto queres?<br /> Outras tantas liras. <br /> Fazes por três liras?<br /> Outra vez não, e não e não.<br /> Gora pôs a mão no bolso e estendeu-lhe três moedas de uma lira. <br /> Toma, para comprares um gelado.<br /> A miúda afastou-se de nós, como se o dinheiro lhe queimasse as mãos. <br /> A atitude de Gora feria~lhe a arte do comércio.<br /> Gora compreendeu.<br /> Ok, então o que me podes vender tu por três liras?<br /> A miúda apontou um porta-chaves vermelho, em forma de coração. <br /> Chegaram a acordo. <br /> Eu ria-me das peripécias da venda mas, de repente, sentia-me profundamente tocada pela noção de dignidade daquela criança.<br />
Gora podia chamar-se Agora, porque eu acho que ele tem uma habilidade
especial para aparecer no momento certo. E o momento certo, para tanta
gente,é sempre agora. <br /> Antes de nos levantarmos do banco de pedra,
Gora estendeu-me o coração e, rindo, disse-me que aquele porta-chaves
era mais apropriado para mim.<br /> Na verdade, eu trouxe alguns porta-chaves da Turquia - nenhum tão foleiro como este, nenhum tão fantástico como este.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-85946105823031520632018-05-06T05:26:00.002+01:002018-05-06T05:26:40.070+01:00<div class="_5pbx userContent _3576" data-ft="{"tn":"K"}">
<br /></div>
<img alt="Foto de Zuraida Guedes." class="spotlight" src="https://scontent.flis2-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/29570919_10156526167514349_4126936257640855392_n.jpg?_nc_cat=0&oh=90d37bd43bb76587d4c1f32f12c516f3&oe=5B8BCF15" style="height: 612px; width: 920px;" /><br />
<div class="_5pbx userContent _3576" data-ft="{"tn":"K"}">
<br />
<br />
Nunca viajo sem a minha máquina fotográfica, companheira garantida de todas as viagens. <br />
A Turquia foi o país em que fiz menos fotografias, porque eu viajei com
a ideia de que me encontraria com uma cultura completamente diferente
da minha. Uma simples fotografia poderia ser uma ofensa e eu, o que mais
queria nesta viagem, era estar em paz com o mundo.. <br /> Do que eu não
suspeitava, é que o mundo vive tempos em que as culturas convivem de uma
forma descontraída, à força de andarmos todos aos pinotes de terra em
terra. E isso fascinou-me. Passeamos pelas ruas, e o mundo está
receptivo à diferença, cioso de diferença!<br /> Esta ideia que eu levava
de que talvez fosse provável não dever fotografar tudo o que eu queria,
abriu-me muito a mente ao contacto com as pessoas. E esta viagem à
Turquia permanecerá muito mais em mim como uma memória das emoções do
que vivi com os outros do que nos momentos de solidão dos cliques das
fotografias. <br /> Na primeira manhã, pus-me num frenesim interior a
subir uma rua que me levaria ao Grande Bazar. Estava excitada por ir ao
Grande Bazar, acho que exactamente como me excitava em miúda, em
vésperas de excursões de escola primária. <br /> A rua que me levou ao
Grande Bazar era comprida, um pouco menos íngreme que as ruas do bairro
alto, e cheia da vida das pessoas que têm como profissão não pararem
sossegadas.<br /> Biron, biron, biron,... era a palavra de ordem dos empregados das esplanadas. <br /> Biron, biron! Where are you from?<br /> From Portugal!<br /> Tia, tu Cristiano Ronaldo?<br /> Si!!!<br /> Yo Slimani! Tu conoces Slimani?<br />
Rimo-nos. Rimo-nos muito. Estavam feitas as apresentações, Portugal
versus Argélia, em plena rua que vai dar ao Grande Bazar da Turquia. <br />
Por momentos esqueci-me do Bazar e deixei-me convencer que era ali
mesmo que eu ía comer o melhor quebab do mundo. Não foi. O melhor quebab
do mundo eu como-o em plena Almirante Reis, num restaurante de um turco
e de uma indiana. E nem há discussão!<br /> Slimani trouxe-me um jarrinho
de ayram enquanto esperei pelo quebab. Não sei se me fascinei por ayram
ou pelo jarrinho estiloso em que era servido. Ou talvez a falta de
cerveja me fizesse sentir naturalmente convertida àquela bebida
estranha.<br /> Slimani dividia-se entre os biron que gritava ao mundo e a minha mesa. <br />
Sim, tinha tabaco português. Dei a Slimani o meu último Camel e ele,
agradecido, tirou uma pulseira de couro preto do pulso e estendeu-ma.
Aceita. Uma recordação minha para ti. <br /> Diz-me onde posso comprar tabaco e quanto custa um maço. <br /> Eu fumo Camel e custa 10 liras. <br /> Fui à loja que Slimani me indicou e voltei sem o tabaco.<br /> Tu sabes que me pediram 35 liras por um Camel?!<br /> Dá-me 13 liras que eu própro to compro.<br /> Slimani tinha-se esquecido que me tinha dito que o maço custava 10.<br /> Compreendi naquele momento que eu iria aprender na Turquia a ficar feliz cada vez que achasse que tinha sido pouco enganada.<br /> De repente fazia-se tarde para chegar ao Bazar, porque tinha outras cores, outras formas e outras gentes para aprender. <br /> Fui. Fui sem ficar ressentida com Slimani. E essa foi a primeira novidade sobre mim.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-52517261722157513652017-08-13T05:17:00.002+01:002017-08-13T05:17:19.276+01:00Noto que o tempo varre coisas absolutamente desnecessárias e até
desgastantes, tirando-me aquela parte da paciência que me estorva. <br />
Estando eu cansadíssima de pessoas e de situações anormais, fui notando
que pessoas e situações de natureza "empecilhante" se afastavam de mim à
medida que mais me fingia desatenta. Acho que é isso. A anormalidade
abeira-se de quem lhe presta demasiada atenção, porque nesses espíritos
patéticos e bondosos encontra uma plateia de atenções. <br /> Tenh<span class="text_exposed_show">o
andado descansadinha, portanto. Mas hoje tive um descuido na estação
do Oriente. Sendo horas já altas, mas não as suficientes para entrar no
comboio que me traria até casa, abeirei-me do segurança da estação, um
cota clássico, com ares e farda de pessoa respeitosa. Perguntei-lhe onde
poderia beber um café e a resposta começou por ser normal.<br /> Vá ai abaixo, que aqui na estação é tudo caro. Tem é que ter cuidado, que o ambiente...<br /> Não faz mal, é só mesmo para beber um café. Não importa.<br /> Ya, és como eu, também ando sempre na confusão e não me importa. Tá-se bem, fica bem!<br /> Ahhhhh,... não disse mas pensei: DESCULPE????<br />
Aquele homem tinha acabado de ser possuído de repente por um espírito
caído do céu directamente na estação do oriente, e o malvado
escolheu-me. <br /> Não disse mais nada, para continuar concentrada no desejo simples de um cafè com gelo. E desci as escadas para o cafè. <br />
Baixei os olhos o mais que pude, até porque a pintura garrida dos meus
olhos podia pronunciar exuberâncias que a minha boca não consente.
Fiquei ao balcão. Bebi ao balcão. Só café, talvez porque a máquina de
gelo avaria cada vez que um cliente resolve ter a sovinice de não pedir
um wiskey. <br /> Desta vez um rapaz alto e de tez saudável e brilhante:<br /> Já pagou?<br /> Já. Obrigada.<br /> E termino o café na rua. Sem gelo nem paciência.<br /> Volto e puxo da carteira.<br /> O que vai fazer?<br /> Olho-o de frente, na certeza que o garrido dos meus olhos o põe na ordem antes das minhas palavras.<br /> Desculpe, não costumo aceitar coisas de pessoas que não conheço.<br /> Pronto, pronto, pronto. Não digo mais nada.<br /> E de facto não disse.<br />
Andam espíritos loucos às cotoveladas no céu,... é o que é,... E Deus
manda-os à terra, porque também já deixou de ter paciência para os
aturar. <br /> E eu com isso?<br /> Nunca estarei disponível para fazer avenças com deus. Nunca!</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-83237255509214744172016-07-28T02:44:00.002+01:002016-07-28T02:44:19.126+01:00A culpa deve ser do senhor Carlos, que se plantou em Santa Iria da Azóia
à beira da Nacional 10, e aí vende petiscos até às duas da manhã. E a
culpa é certamente minha, que tenho ananás fresco e diurético no meu
frigorífico, e em vez de me ficar pelo saudável e natural, opto por me
empanturrar de couves, chouriços, carnes gordas e tubos de ensaio cheios
de vinho fresco e áspero. E juro que me parece uma boa opção, sobretudo
depois de um dia de trabalho em que a refeição é apenas o momento em
que me alimento de forma apressada, como se o cumprimento de regras
impostas se superiorizasse ao gozo da mastigação. <br /> Era para ser
moelas, mas não resisti à novidade de jantar um cozido à portuguesa,
como se meia-noite pudesse ser meio-dia. Afinal, depois vinha o
recolher, umas horas no face a actualizar os treinos de candy crush
saga, tempo suficiente para a bela da digestão. <br /> Adoro o momento em
que me sento numa tasca sozinha, peço o petisco e aguardo em
pensamentos. Só eu comigo. E estava eu nesta coisa profunda, que é a
intimidade comigo mesma, quando a figura se aproximou e se animou.<br /> Desculpa, tenho estado a olhar para ti e a pensar. Posso dizer uma coisa?<br />
Acho que o olhei por cima da armação verde dos meus óculos e, apesar da
cor, não fui capaz de vislumbrar qualquer raio de esperança. Mesmo
assim, resolvi dar-lhe a oportunidade que dou a todas as pessoas, porque
ainda não consigo deixar de achar que, se coexistimos no espaço,
teremos todo o direito de coexistir em palavras.<br /> Claro. Ora diz.<br />
É pá, é que tenho estado a olhar para ti, e és uma mulher bonita, tens
umas feições perfeitas. Mas não percebo porque estás assim<br /> Assim?<br /> Pois. Não é por nada, mas já pensaste como te mexias melhor com menos dez quilos?<br /> Desculpa? Por acaso achaste que tinha dificuldade em sentar-me?<br /> Não leves a mal, mas eu também tenho um filho assim.<br /> Assim? Assim como?<br /> Pois, tu gostas de comer, já percebi. Mas isso é um problema...<br />
Um problema? Um problema é eu querer estar sossegada e tu achares que
me podes incomodar. Desculpa lá, mas eu não venho aqui para falar com
ninguém e quero estar sozinha. <br /> É pá desculpa. Toca aí.<br /> Não toco em lado nenhum.<br /> Não me faças sentir mal, que eu gosto é de falar com as pessoas, tocar nas pessoas. Vou me sentir mal. <br /> E foste sentir-te mal, sim senhora, mas pelas razões erradas. <br />
De repente está implantada a revolução na Cabana do senhor Carlos,
largue a senhora porque a está a incomodar, senhor Carlos deixe estar,
que o cavalheiro está de saída, menina a conversa já me estava a enojar,
há pessoas que realmente parecem anedotas, este tipo é sempre assim,
mete-se sempre com as pessoas,...<br /> E silêncio, enfim,...<br /> Não
negaria uma conversa àquele homem, se se tivesse abeirado e me
confessado que se sentia só. Comovem-me as pessoas que sofrem de
solidão, porque ainda somos tantos humanos à face da terra que não vejo
razão para uma tristeza assim. Mas aquele homem quis salvar-me de um
problema que não é meu, como forma de se fortalecer numa ficção
desajeitada.<br /> Quando eu digo que detesto o provincianismo, também é
disto que falo. E se como farinheiras, e moelas, e pudins dourados e
caseiros a babarem-se de molhos de caramelo, podia não ser pelo gosto da
boa mesa, mas apenas para me proteger de popularidades desadequadas. <br />
Bebo o café, e hoje não vai o digestivo. Saio dali satisfeita, como
sempre, porque a comida ´é tão boa que me enche mais a alma do que as
desconversas. <br /> E lá fora está um homem de polo cor de rosa, num
carro preto. Fica a ver-me passar e quando me vê junto ao meu carro,
resolve assobiar-me e fazer-me um sinal.<br /> Oh meu Deus!, querem ver que o cozido me emagreceu?<br /> Arranco da cabana para o mundo, onde ainda é possível sentir-me só.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-34404253897057591182016-07-23T03:24:00.001+01:002016-07-23T05:25:34.110+01:00Hoje atendi o papá da menina do papá e tive saudades de um tempo que só reconheci bastante tempo depois de o ter perdido. E não é que não tenha valorizado o que tive durante o tempo que tive, é nunca ter sido capaz de imaginar a quantidade de tempo que se chora a perda, mesmo sorrindo.<br />
O homem entrou-me pela linha adentro. Sim. O homem. A voz apenas o denunciava. A sua preocupação. A sua menina. Tudo o que importa na vida. Ela estava no meio de uma estrada sem telemóvel e ele demasiado longe para a poder socorrer. Foi nestes preparos que me entregou a sua menina. Chame-lhe um reboque e um táxi. Peça ao reboque para lhe dizer que vai ter um táxi para a ir buscar. Faça-me esse favor.<br />
Em suma: você, que também está distante como eu, cuide dela como se fosse sua, ou nossa, o que você quiser.<br />
Claro que sim.<br />
A chamada seguinte, como por magia, era de um outro homem que me disse que havia uma menina que estava na estrada sozinha, de carro avariado. A mesma menina. A menina de seu papá. Pedi para a chamar e chamei-a pelo nome. Maria Salomé, tinha-me dito o pai. Não estranhou que soubesse o seu nome, como quem tem a ideia de que o mundo gira à sua volta, qual estrela de rock que contamina tudo, apenas com a sua existência.<br />
Salomé é apenas duas coisas: a menina de seu papá e uma boneca de papel a quem dei esse nome, enquanto a vestia e despia com as minhas garridas costuras de papel de lustro. Nada mais. Mas nesse momento, era também a possibilidade de eu cumprir exemplarmente o meu compromisso com um homem desesperado.<br />
Vai ter táxi, Maria Salomé, claro que sim. Acalme-se. Daqui a pouco estará em casa. Não agradeça, estou a fazer o meu trabalho.<br />
E a seguir ligo para o pai, que me atende logo o telefone, e ah minha senhora falou com ela? Muito obrigado.<br />
E fiz o meu trabalho. Um reboque e um táxi. Tudo o resto foi cuidar dos afectos dos outros, e ninguém me paga para isso. Gosto mais de fazer as coisas para que não me pagam, Maria Salomé, porque um dia, se a tua vida seguir as regras naturais da existência, tu estarás a chorar como podes a perda do papá da menina do papá, e compreenderás, também tu, que a coisa mais tranquilizante que temos na vida, são as pessoas que só respiram bem com o nosso bem-estar.<br />
O papá enlouquece se te sentir em perigo, Maria Salomé. O papá chora o teu sofrimento. O papá não é ninguém quando tu sentes que não és ninguém, Maria Salomé. Que farás tu da tua vida, quando te abandonarem nos calabouços de uma orfandade profunda? Que será de ti, Maria Salomé? Que luto é esse que te aguarda? Como voltarás a garrir~te por dentro e com que luz iluminarás ainda as estradas e os atalhos que te restem? Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-65232522856457492682016-06-11T02:35:00.000+01:002016-06-11T02:49:50.443+01:00Olho para ti, e és a possibilidade de frescura das alfaces citadinas. Gosto do que tu dizes,... que te apresentas neutra porque não te interessa que te sintam. E que uma mulher sensual é uma mulher que está confortável. Vem-me à cabeça uma coisa muito estúpida, como se fosse suposto que falasses e eu me lembrasse de situações pouco condizentes com a abstracção das ideias. Vem-me à memória o dia em que decidi que os sapatos têm que estar de bem com o pé. Sempre. Não sei se esse é um dos atalhos para a sensualidade. Não me interessa a sensualidade. Apenas o conforto. Tu que não te sintam,... eu que me conforte,... as coisas que nós valorizamos.<br />
E somos mulheres assim. Sentamo-nos na treta no degrau de uma casa, vamos dizendo coisas que nos passam pela cabeça, e não nos estranhamos com isso, exactamente como as pessoas que se conhecem há muito tempo.<br />
Não estava previsto seres uma velha de chinelos, mas se calhar vais ser uma velha de chinelos,... rio-me contigo, para que não te assustes. Coisas que tu dizes da boca para fora, como se não te conhecesses desde sempre. Para mim, tu serás uma velha guerreira com a sua cota de reforma, e gostarei de te ver, também assim.<br />
Faço-te um cigarro. Faço-me um cigarro. Mantenho o isqueiro na mão, para que nos irritemos o menos possível com o murchar de todos os fogos.<br />
Dizes-me que te acompanhe, e eu vou. Trazes na mala ração para gatos e empoleiras-te nos muros para os alimentares. Há ainda a gatinha mamã que come Royal Canin, repasto escolhido por ti com carinho, porque uma mãe é uma mãe. Eu sei.<br />
Pela primeira vez, os gatos da minha rua não me estranham. E eu gosto de ser próxima de repente, ainda que a razão seja o interesse deles. <br />
Fica então prometido um copo de vinho, e eu dou por mim na esquina da minha rua a ver-te sumir, degustando ainda a delicadeza dos teus gestos, enquanto espalhavas amor pelas calçadas. E, de repente, sinto paz.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-4204013663699106072016-05-07T03:48:00.000+01:002016-05-07T03:48:00.234+01:00Gosto do amor,<br />
meu amor,<br />
das alvoradas sem palavras,<br />
do chilrear dos pássaros<br />
que papagueiam por nós,<br />
de ser o teu bébé,<br />
tété, mémé,...<br />
Paga-me as contas!<br />
<br />
Gosto do amor,<br />
meu amor,<br />
das tardes de mão dada,<br />
que assedies as mulheres<br />
e eu não dou por nada,<br />
sou o teu xuxu,<br />
mumu, tutu,...<br />
Lava-me o carro!<br />
<br />
Gosto do amor,<br />
meu amor,<br />
das noites em que não estás,<br />
escutar os ecos de um silêncio apetecido,<br />
que sejas o meu tótó,<br />
bóbó, mómó,...<br />
e o António aqui tão perto!<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-52852857328033057182016-05-04T07:45:00.001+01:002016-05-04T07:59:18.092+01:00<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
A MAÇÃ QUE ANOITECE<br />
<br />
<br />
Dona Mariana de Sá, nascida em 1918 , era amante de frutas frescas e doces. Quis ver o seu<br />
<br />
nome em acrescentos de poesias arrancadas à terra, e assim o alindou com um "Pereira" de seu<br />
<br />
marido. Mulher de mais atitudes do que de falas, nunca me contou o que a terá feito decidir-se<br />
<br />
pelo casamento com Leonardo Pereira, mas não me espantaria se tivessem sido os seus olhos<br />
<br />
mágicos, que mudavam de cor ao ritmo das emoções ou à falta delas.<br />
<br />
Dona Mariana não era nem muito bela, nem muito esbelta, nem muito nada do que fosse moda<br />
<br />
para a época. Trabalhava num banco e ocupava-se da família, o melhor que podia. Tinha as<br />
<br />
suas amigas, mas nenhuma que compreendesse os desafios de uma mulher mais do que<br />
<br />
moderna para o seu tempo, que ganhava o seu sustento.<br />
<br />
Amava a sua casa virada para o mar. As conversas mais íntimas, tinha-as com a macieira que<br />
<br />
se enraizara no seu pequeno jardim, debruçada sobre a janela do seu quarto.<br />
<br />
Numa noite, decidiu o resto dos seus dias. Recebeu em casa uns amigos, sorriu-se com eles e<br />
<br />
deu-lhes de jantar. Em agradável conversa, Leonardo terá dito aos comensais que encontrava na<br />
<br />
mulher a amizade de uma irmã.<br />
<br />
Mais um conhaque e um café e não tardaram as despedidas. Dona Mariana preparou o sofá da<br />
<br />
sala com lençóis de solteiro e disse:<br />
<br />
A partir de hoje durma na sala, porque os irmãos não dormem juntos. Ah!, e não me dirija mais<br />
<br />
a palavra.<br />
<br />
O silêncio fez-se até ao dia em que o destino roubou Dona Mariana à vida e aos seus.<br />
<br />
Leonardo, que ao longo dos anos intensificava sestas em outros leitos que não o matrimonial,<br />
<br />
deixou-se de aventuras e voltou a dormir no quarto que tinha sido da mulher. Todas as noites,<br />
<br />
antes de se deitar, tinha o cuidado de deixar a janela aberta, porque acreditava que Mariana o<br />
<br />
visitaria, galgando a pequena parede que separava o quarto do quintal. Traria na mão direita um<br />
<br />
cesto de verga cheio de maçãs vermelhas acabadas de colher, e assim voltariam a ser um casal.<br />
<br />
Pensamentos e imaginações de um velho só, coisas próprias de demência ou de saudade,...<br />
<br />
nem sei bem se a saudade não será um estado de demência dos que perdem o que mais não<br />
<br />
podem agarrar.<br />
<br />
Sei que Leonardo amuou e, num dia em que se zangou mais do que o costume com a ausência<br />
<br />
casmurra da mulher, fechou a janela do quarto e decidiu que o assunto assim se encerraria para<br />
<br />
sempre.<br />
<br />
Nessa noite, num rompante estridente que se fez notar pela janela, o quarto foi invadido por uma<br />
<br />
maçã gigante, muito vermelha e brilhante, e o fruto, abrindo-se em duas partes sobre a cama do<br />
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<br /></div>
homem adormecido, roubou o corpo ao leito e voou rumo a um céu imenso.<br />
<br />
À passagem pela lua, estavam as estrelas aninhadas nas traseiras de um quarto crescente, só<br />
<br />
para os ver passar,... o homem e a maçã.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-66443526787541886502016-04-06T05:50:00.000+01:002016-04-06T06:11:38.903+01:00<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAMiVsOVSnUdP-4Wp7g-_nQBoEP3-fmhQrYEfqYl_jD2fJBSMwGOytt5TZIE-WB2aRsFHhw7v29uGOYze-EPeTcmiWzMC5b6cTnOcnhyphenhyphenFJL1XmV1Gs-OwPjz6eGDo_xwTqaFDC6I9jn3Y/s1600/DSC_0328.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAMiVsOVSnUdP-4Wp7g-_nQBoEP3-fmhQrYEfqYl_jD2fJBSMwGOytt5TZIE-WB2aRsFHhw7v29uGOYze-EPeTcmiWzMC5b6cTnOcnhyphenhyphenFJL1XmV1Gs-OwPjz6eGDo_xwTqaFDC6I9jn3Y/s640/DSC_0328.JPG" width="640" /></a></div>
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<br />
<br />
Há dias em que é bastante evidente que crescemos e que temos um passado longínquo. Aconteceu-me hoje voltar ao meu liceu. A fachada estava tão diferente que não quis entrar. Tive medo de ver coisas que não me apeteciam. Mas lá entrei naquele sítio que já pouco reconheço, tantas foram as obras de melhoria. <br />
<b><i>A senhora é encarregada de educação?</i></b><br />
<i><b>Quais senhora? Ah! Eu!</b></i> Tinha perdido a idade de repente, mas recompus-me de forma desejável.<br />
<i><b>Vim acompanhar uma amiga que veio a uma reunião de professores. Tem aqui o filho a estudar. Eu também estudei aqui. Fui das primeiras alunas deste liceu. </b></i><br />
<i><b>Entre. Esteja à vontade. </b></i><br />
<i><b>Está tudo tão diferente. Não era nada assim. </b></i><br />
<i><b>Pode entrar e ver o que estiver aberto. </b></i><br />
Já não existe a entrada cheia de escadas de cimento, nem o longo corrimão vermelho. Entrei.<br />
Dirigi-me à sala de convívio, mas agora é uma biblioteca. Estava aberta. Entrei e olhei para um rosto que ficou satisfeito.<br />
<i><b>Ohhh!</b></i><br />
<i><b> Professora!</b></i><br />
A minha professora de Francês! Passaram 33 anos e estávamos ali outra vez, a reconhecermos o rosto uma da outra, a voz, a fisionomia, os tempos que foram nossos.<br />
<i><b>Eu dei-lhe aulas no meu primeiro ano como professora. Era uma virgem nestas coisas. </b></i><br />
E eu era uma virgem também, nestas coisas de andar num liceu, cheia de disciplinas, de responsabilidades e de coisas para pensar. <br />
Verdade! No liceu pensava-se bastante, graças a professores que tinham apostado numa pedagogia que desvalorizava marrões e encorajava mentes inquietas. E aos 15, 16 anos, as mentes são bastante inquietas. E as que não são, tornam-se.<br />
De repente, tive consciência do meu passado. Eu tinha crescido numa casa de educação exigente, nas garras de uma mãe disciplinadora, que tinha a braços quatro pequenos imberbes que haviam de crescer com maneiras. Não lhe foi difícil, mesmo assim, tantas eram as vezes que ameaçava escrever ao nosso pai, se as coisas não corressem de feição. E o pai, que era embarcado de profissão, meigo mas corpulento, vinha sempre de seis em seis meses, primeiro atracando-se de mimos e novidades, depois pedindo sempre explicações sobre comportamentos desviantes. Medo!<br />
A escola era então o sítio onde eu podia desenvolver uma parte diferente de mim, ser singular, ser diferente, ser gente com ideias cada vez mais próprias. E era. Bebia sofregamente os ensinamentos da professora Vitalina, que passava slides nas aulas de Sociologia e nos perguntava sobre o que as imagens nos faziam sentir. Amava aquelas aulas, talvez mais os reflexos que produziam em mim do que do tempo em que estava ali sentada, a escutar e a discutir coisas importantes. Lembro-me de ter feito um trabalho voluntário depois de uma aula sobre produção humana, tal foi a força das palavras da professora Vitalina.<br />
Depois vinham os passeios a Óbidos. Não me recordo do que víamos, mas lembro-me bem da algazarra que fazíamos no autocarro e dos almoços. Acho que íamos a Óbidos para bebermos os nossos primeiros copos e apanharmos as primeiras tonturas boas que a ginja nos dava. A professora Vitalina levantava-se da cadeira do restaurante, dizia Fernando Pessoa e as lágrimas caiam-lhe pelo rosto. Não nos surpreendíamos, porque aquela forma de sair da norma era um professor a ser pessoa, tocável, sensível, humano entre os humanos.<br />
Lembro-me também do professor de Desenho, o professor Luciano, franzino mas bonito. Lembro-me bem de não ter jeito nenhum para fazer desenhos mas de me esforçar ao máximo para fazer uns rabiscos giros, tamanha era a minha vontade em lhe agradar. Miúdas parvas, era o que nós éramos. O professor Luciano chamava-nos e nós levantávamo-nos do estirador, de rosto baixo e corado. Se alguém dizia alguma coisa entre o trajecto que ia do nosso lugar até à sua secretária, riamo-nos de nervos, disfarçando como podíamos que sermos chamadas ao professor Luciano era um momento especial.<br />
Lembro-me ainda da professora de Biologia, que adorava a minha escrita e que me dizia que nunca tinha tido um aluno que escrevesse tão bem como eu, pena eu escrever coisas tão desacertadas. Dava-me muitas negativas nos testes, mas eu sabia que ficava com pena de mim, por eu escrever tão bem.<br />
Lembro-me da sala dos professores ser uma espécie de divisão interdita. Hoje estava aberta e disponível. Está bonita, com um mini bar, mesas e cadeiras e uma decoração de salinha de estar.<br />
Lembro-me de haver espaços verdes à volta da escola, de os meus colegas se perderem por ali a fumarem ganzas e de eu os ir chamar. Eu não fumava, não por não ser potencialmente desajuizada como os outros, mas porque tinha medo de gostar. E o remédio era não experimentar. Lembro-me de eles quererem fumar calmamente e faltarem às aulas e de eu lhes pedir que não o fizessem, para não chumbarem por faltas. Dizia-lhes que fizessem como eu, que simplesmente desligava a atenção da aula quando não me apetecia estar ali.<br />
Lembro-me de a minha turma ser a primeira a ter aulas de Teatro e de vibrarmos com a novidade. Lembro-me de o professor de Teatro ter sido o primeiro e único professor a abandonar a sala de aula, por causa do nosso comportamento desadequado. O comum era os professores mandarem os alunos para a rua quando não se comportavam bem. Aquela reacção absolutamente inesperada do nosso professor de Teatro fez-me ter medo que ele não voltasse. Foi um sentimento especial e raro. Nunca tinha sentido antes que um professor poderia simplesmente não voltar, por nossa culpa. Lembro-me de, na aula a seguir, estarmos empoleirados no corrimão do corredor, espreitando ansiosos a sua chegada. Portámo-nos muito melhor a partir desse dia.<br />
Lembro-me da minha professora de Português. Ainda me lembro do seu nome completo: Maria Helena de Freitas Lindo. Era uma senhora diferente de todas as outras. Era magríssima, velhíssima, pequeníssima. Tinha feitio de trovão e um cabelo cinzento muito curto, cor de céu em tempo de chuvadas fortes. Era muito cínica, mas acho que abusava dessa característica por pura pedagogia.<br />
Nós punhamo-nos à boleia para o liceu e a professora Maria Helena de Freitas Lindo também. Era uma delícia, vê-la a acenar aos condutores de dedinho muito esticado, nas suas calças de napa preta, como uma estrela de rock envelhecida e muito digna.<br />
Lembro-me de a adorar e de me rir das suas palavras menos agradáveis, talvez porque adivinhasse a sua dureza ensaiada. Mesmo quando me dizia coisas menos boas, nunca lhe levava a mal. E nesse tempo (como agora) lembro-me de ser fácil ferir-me com palavras difíceis de ouvir. <br />
A professora Maria Helena de Freitas Lindo exigia a verdade, sobretudo quando os alunos inventavam desculpas que entendia como esfarrapadas. Dizia que nos faria o mesmo que fazia aos filhos, quando pequenos: cheirava-lhes a cabeça, para ver se lhe cheirava a mentira. E era assim, cheirava a cabeça de alunos que se deixavam aterrorizar pelo faro das suas narinas, Eu ria-me, talvez porque a mentira não fosse especialidade que eu tivesse necessidade de experimentar.<br />
Mas a coisa mais importante que a minha professora de Português me ensinou, aprendi-a eu a propósito de me ter pedido uma opinião. Eu tinha sempre ideias muito próprias, mas recordo-me de a colega que falou antes de mim ter dito algo com que eu concordava em absoluto. Arrisquei então em experimentar uma expressão que nunca tinha usado, convicta de que seria uma resposta imponente:<br />
"Faço minhas as palavras da colega!"<br />
<i><b>Não faz nada! A menina nunca pode fazer das suas palavras as palavras de outra pessoa, porque cada pessoa é uma pessoa, cada pessoa expressa-se de uma maneira singular. Eu nunca mais quero ouvir isso! Diga, por favor, o que pensa.</b></i><br />
<br />
Nunca mais foi de outra maneira. Nunca, nunca, nunca mais na vida, professora Maria Helena de Freitas Lindo. Velhinha que estava, já não a verei à boleia de calças de napa em lado nenhum, mas asseguro-lhe, professora, que tenho feito dos meus dias momentos cheios de ideias próprias, por escrito, na oralidade, no interior da minha cabeça. E realmente, independentemente dos resultados, não me parece que haja melhor forma de estar. E poderia cheirar-me a cabeça, que cheira a verdade.<br />
<br />
<br />
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-10095825774550282402016-03-14T05:19:00.000+00:002016-03-14T05:19:00.841+00:00Agora não estás, exactamente como nunca estiveste, e eu pergunto: o que faria eu sem ti?<br />
O mesmo de sempre, pelas esquinas de uma liberdade quase absoluta.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-23530867801822652952016-03-09T00:51:00.001+00:002016-03-09T00:51:27.651+00:00Hoje, no Chiado, estavam fortes, as comemorações do dia da mulher. Uma
resma de outdoors em volta da estátua de Camões, histórias de mulheres
que deixaram de respirar, vítimas de um tempo em que se celebra num dia a
existência das pessoas, e nos dias que se seguem espancam-nas até ao
esbater do mais assustado dos ais. As vítimas de maus tratos, ali
expostas as histórias que se resumiram precocemente no tempo , as fotos
dos cenários possíveis, o quotidiano do nosso século a jo<span class="text_exposed_show">rrar História numa das praças mais movimentadas da cidade. <br />
Vinha depois a menina que oferecia flores rechonchudas a todas as
mulheres que passavam, mas o Camões estava triste, como um cemitério no
meio da capital, e a gente passava por ali, lia uma ou duas histórias e
não queria ver mais, apressava o passo como quem de repente deixou de
ter algo para comemorar, e interrogava na mudez gelada o que é esta
coisa de ser mulher, o que é esta coisa de ser pessoa, e ao que andamos
nós aqui.</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-6085570834736475782016-03-08T21:33:00.000+00:002016-03-09T00:52:38.535+00:00Que saberás tu agora do medo de não existir? Terás tu o medo que eu tenho? Sentirás tu que a tua ausência será a nossa ausência e a minha eterna e dorida dormência? Sinto-me mãe através de ti, e não é essa patetice das impossibilidades cronológicas, mas a doidice de querer segurar-te na mão e assim impedir que tu partas, é este desejo de falar-te mansamente e perpetuar o sorriso que nos isola do mundo, como só nós sabemos da existência de uma e de outra, árvore de um único fruto.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-10718460940278817542016-03-03T23:06:00.000+00:002016-03-03T23:06:27.956+00:00Ausento-me alguns dias para pensar na vida, e não consigo pensar muita coisa de jeito, porque vejo poucas coisas que jeito tenham.<br />
Mantenho ainda os amigos, que me aturam umas vezes com prazer e outras vezes por uma espécie de fidelidade que os impede de me mandarem bugiar. Se não fossem os amigos com quem desabafo sobre as ausências inconcebíveis e as existências abomináveis, nem sei de quantos manicómios me veria já escorraçada.<br />
Vivam então os amigos, os que se desnorteiam pelos acontecimentos que os põem tristes e aflitos, mas que têm tempo para mim; os que estudam que nem uns desalmados e que nos intervalos das sapiências continuam a achar que falarmos ainda é uma boa escolha; os que me enviam mensagens quando eu estou distante e me fazem acreditar que torcem por mim; os que desejam que a força esteja connosco; os que se riem comigo nos intervalos das sofridas dúvidas amorosas; os que já não estão por aqui mas que renascem sempre que me fazem pensar que o mundo seria bem pior se não nos tivéssemos cruzado nas ruas deste planeta; os que acreditam que um sentimento bom e a partilha dos momentos ainda é a forma mais possível de estarmos juntos. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-36069735814864564452016-02-20T00:24:00.003+00:002016-02-20T00:24:58.796+00:00Gosto disto, sei lá. Gosto de chegar, que me metas na ordem para que não haja dúvidas sobre quem manda aqui, gosto de te ignorar como quem não ousa olhar a superioridade a direito e que tu depois venhas com falinhas mansas, como quem deixa de se alimentar do comando. Gosto mesmo disto! Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-31463271134441145232016-02-14T02:57:00.002+00:002016-02-15T00:18:33.099+00:00É chegado o momento em que a falta a respiração me ataca e a reanimação terá que ser feita com um golpe de aventura. Levem-me daqui para um lugar distante da pobreza do dia-a-dia sem esperança, porque eu morro com a ausência do sonho, e não quero ainda acabar-me. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-43586245572994453212016-02-11T04:23:00.001+00:002016-02-11T04:23:22.849+00:00A família é a coisa mais importante que tu podes ter. Não precisas de estar sempre com a família para sentires que a tens. A família conhece o berço onde nasceste, sabe a pessoa que tu és e nunca duvida de ti. A família não te aponta dedos quando tu mais precisas de um abraço. A família entende-te com um olhar e conhece o significado do tom da tua voz. A família sente-te e sabe o que sentes. A família, muitas vezes, demasiadas vezes, não inclui os que têm o teu sangue. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-22402016380055647372016-02-09T05:12:00.001+00:002016-02-09T05:12:47.032+00:00Sempre que a paz me visita, faço do regresso a casa um motivo de passeio. Sabe-me bem, este deixar do trabalho no trabalho, deleitar a vista pelas pessoas e pela noite que alumia os espíritos. Sinto-os à minha volta, a cirandarem à minha volta, e gosto...<br />
O mundo é simples e bom, quando coexistimos num acto de compreensão espontânea, só porque sim, porque estamos bem.<br />
As regras dizem que os passeios são um espaço de passagem, e eu concordo mas, à noite, os passeios são aglomerados de pedras amaciados pela estagnação dos que não têm nada a fazer, a não ser aproveitar o tempo para dar despreocupação à vida. Deixo-os estar parados no passeio, a empatarem o meu caminho,... e que mal é esse, quando tenho um pedaço de alcatrão por conta dos meus pés? Passo na estrada e estendo-lhes, sorrateira, a tangência do olhar. Vejo o grupo dos amigos, uns três a decidirem o melhor caminho para chegar além, uns dois mais afastados, enlaçados em beijos que dançam entre o mimo e a quentura do amor ainda fresco. O caminho é por onde for, e os amigos que os levem, que o destino já o sabem e o caminho pouco importa.<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-25386052119329170332016-02-08T03:06:00.004+00:002016-02-08T03:06:37.549+00:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9-hIhCRroE8bYXYdMrz3KYjDMlLh5F8pkOhdRTqq1ZgIymt9AgOLIWFeZXMN2uzuolYA9ZrntP3egjbZxCGC7cmfgjoUDR7sFLDtTsnWZ0-90DdzlIHm32w-qQfz6l9JS9HOBw_Lm168/s1600/DSC_0008.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9-hIhCRroE8bYXYdMrz3KYjDMlLh5F8pkOhdRTqq1ZgIymt9AgOLIWFeZXMN2uzuolYA9ZrntP3egjbZxCGC7cmfgjoUDR7sFLDtTsnWZ0-90DdzlIHm32w-qQfz6l9JS9HOBw_Lm168/s320/DSC_0008.JPG" width="217" /></a></div>
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<span class="_5yl5"><span>Pediste-me hoje que tirasse uma fotografia para te oferecer e eu quis fazer o meu melhor. Estava eu na Graça a passear-me em busca de um bom motivo para fazer um click, e o disparador da minha máquina avariou. Uma semana sem máquina, pago o que devo e abraço-a de novo. Estou assim, não vale a pena chorar o que acontece quando já tenho em mente que terei um final feliz, ... eu e a minha máquina... </span></span><br />
<br />
<span class="_5yl5"><span>Vou contar-te uma história, uma boa entre as possíveis. </span></span><br />
<br />
<span class="_5yl5"><span>Era uma vez um pássaro que vivia à beira rio. Durante os primeiros anos de vida foi feliz, porque lhe bastava a contemplação da liberdade do rio. Qualidade de vida, era a sua! Adormecia todos os dias aninhado numa janela centenária do Terreiro do Paço, abria os olhos aos primeiros raios de luz, abria as asas num espreguiçar dali até ao céu e punha-se a andar, vaidoso e dengoso até às margens da cidade.
Certo dia, porém, acordou triste com a sua vida. Sempre a mesma liberdade é coisa que aprisiona, pensou ele.
E é. </span></span><br />
<span class="_5yl5"><span>Nesse dia, andou por outros caminhos. Viu coisas bizarras e nem sabia o que pensar. Um pássaro estampado numa parede sem se mexer? Que raio de animal tão estranho, e cheio de dentes ou o que raio era aquilo? Cabelos no céu muito quietos a contemplarem a terra?
Uma gaiola vazia e dois músicos a tocarem a liberdade dos que se soltaram? Isso sim, fez-lhe sentido. </span></span><br />
<span class="_5yl5"><span>Nessa noite voltou feliz e contente ao Terreiro do Paço e, quando deu por si, adormecia contente. Que bom que tinha sido aproveitar a sua liberdade para sair de si próprio, ver coisas que não tinha entendido, intrigar-se com isso, questionar-se se os voos fazem sentido, e de repente encontrar respostas felizes, que satisfazem andanças e voos. </span></span><br />
<span class="_5yl5"><span>Amanhã voltará a voar. Depois de amanhã também. E todos os dias será assim, até que tenha asas,... e terá sempre asas.</span></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-46239595698042898372016-02-07T03:57:00.001+00:002016-02-07T03:57:50.777+00:00Se tu podes deixar que te saiam do peito as palavras e as emoções, se tu podes rir até contorceres o abdómen da dor que o prazer te provoca, se olhas à tua volta e os outros estão exactamente como tu, será difícil que te sintas só. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-21453808404002868442016-02-05T02:07:00.000+00:002016-02-05T02:22:43.461+00:00Saí de casa animada, hoje. Voltei um pouco a ser como as pessoas normais, que trabalham cinco dias por semana e aproveitam os outros dois para fazer coisas que lhes dêem prazer. E foi com um sorriso que saí de casa, hoje, e apanhei o eléctrico para ir até à Graça, passear-me e tirar umas fotografias.<br />
Abeirava-me eu da paragem do eléctrico quando reparei que um rapaz me sorria e eu não sabia quem ele era. Achei estranho, mas depois percebi que eu vinha a sorrir e o meu sorriso chamou a sua atenção. Quando eu passei por ele, disse-me que eu era linda e eu fiquei sem saber se me havia de valer da nova lei do piropo ou se havia de deixar de sorrir. Não fiz nem uma coisa nem outra, mas percebi que o sorriso faz as pessoas lindas. Desejei sorrir todos os dias, não para ser linda, mas para que me sorriam e me digam algo que recompense o estado de boa disposição. Não quis apanhar o mesmo eléctrico do que ele, porque não me apeteceu ir de pé num transporte atulhado de gente. O eléctrico dá-me aquela sensação boa do tosco misturado com o requinte de usufruirmos de um transporte que se tem conservado muito por orgulho e vaidade, por isso quero sempre ir sentada, a olhar as madeiras velhas das janelinhas, a olhar o guarda-freio e a pensar como é que ele faz aquilo e a coisa não descarrila. Agora existem mulheres condutoras de eléctrico e eu gosto de as ver a conduzir, porque os seus gestos são normalmente mais delicados, o que faz com que sintamos que o eléctrico anda mais acarinhado.<br />
Estava eu em pensamentos destes e noutros mais ou menos diferentes quando entrou uma senhora, toda ela vestida de beije e de chapéu muito bem armado na cabeça. Ficou ainda mais patusca quando falou: <b><i>andam por aí carteiristas ou quê?</i></b> Dei comigo a responder-lhe: <b><i>estou aqui eu, minha senhora</i></b><i>, <b>mas não se preocupe que hoje vou sentadinha.</b></i> Quando ela me sorriu, tinha no rosto a expressão de quem não esperava uma resposta. E disse: <i><b>você não me mete medo, vejo bem que anda ao mesmo que eu. </b></i><br />
Andaremos sim, todos ao mesmo, nas azáfamas dos dias gravados nas linhas que se desenham nas estradas velhas da cidade.<br />
No eléctrico, tenho esta sensação boa. O espaço é invadido pelas almas simples das pessoas que ali andavam noutros tempos, e elas segredam-nos a espontaneidade de falarmos uns com os outros, ainda que nunca nos tenhamos visto.<br />
Adoro o eléctrico, os metaizinhos da máquina que me transporta, as mãos sábias dos guarda-freios vestidos de um azul muito anoitecido, as madeiras das janelas e os fechos de um metal mais do que envelhecido, as senhoras que entram e que têm boca para falar com toda a gente, eu ali sentada a ter boca para falar com toda a gente, ... deixar depois aquele reino e encontrar um castelo no meu caminho.<br />
Haverá alguma coisa mais mágica do que este deixar-me ir até esbarrar-me com um passado que se deleita em conversas animadas com o meu presente? Amo Lisboa. Amo-me feliz em Lisboa. <br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-20919142369088910842016-02-04T05:27:00.000+00:002016-02-04T05:27:20.466+00:00Se vires um pirilampo na paragem do eléctrico à tardinha, no lusco-fusco das doces aparições, não sou eu. Se sentires uma aragem teimosa no meio de uma tarde tórrida, não sou eu. Se pedires uma cerveja preta na esplanada do centro da praça e ta servirem com uma densa espuma roxa, não sou eu. Se pedires para fazer uma cópia de uma chave que abra os horizontes da dobra de uma esquina vazia e ta entregarem num porta-chaves com muitas luzes garridas, não sou eu. Se quiseres manter-te sério e ouvires uma gargalhada estridente, não sou eu. Se te aparecer uma nuvem morena embrulhada numa manta de retalhos multicolores, posso ser eu a adiar a chuva, e a chuva a adiar-me de ti. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-27267395607222478212016-02-03T02:26:00.000+00:002016-02-03T02:26:05.065+00:00O passado é um amigo que nos visita na penumbra da nossa solidão, e como
quem não aprendeu a agasalhar-se de uma matéria-prima qualquer,
cobre-nos de nostalgia. Senta-se connosco. Contempla o nosso melhor bule
que nos fumega o interior, acende uma lareira imaginária que nos afaga,
e fica por ali, sem ter pedido licença, nem para nos visitar, nem para
se despedir. É nesse ambiente de intimidade connosco que temos a noção
estúpida da irreversibilidade de todas as coisas.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-88881930990972038302016-01-31T23:41:00.000+00:002016-02-01T03:21:30.275+00:00Coisas simples, que renovam o ar que respiro. Agora falas menos, e dizes muitas coisas sem sentido. E eu, para manter a cumplicidade, alinho em todas as conversas, sem esforço, porque o que menos desejo é que nos estranhemos. Será isto o amor, a não estranheza dos conteúdos? <br />
Gosto de chegar e de ver o teu sorriso todo, onde não falta nenhum dos teus dentes. Gosto. Adoro. Abraço-te muito, recebo muitos beijos seguidos e cheiro-te. Acalmo-me como um bebé que deixa de chorar quando sente o colo do conforto. Tão bom ter-te, de qualquer forma, com qualquer sorriso e brilho de olhos. Como se me quisesses dizer que queres celebrar a minha presença, pedes-me que vá buscar duas garrafas de qualquer coisa com álcool. Vou à colectividade da esquina e trago duas cervejas sem álcool. Fazemos alguns chin chins contentes e ruidosos e sorrimos, muito! No fim volto a cheirar-te e digo que tresandas a álcool. Tu sorris outra vez, suspiras e deixas escapar um "tão bom!". Tão bom mesmo, tão bom ter-te e que os dias conservem, pelo menos, a paz dos sorrisos e o teu cheiro em mim.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-67070167950284049382016-01-31T01:49:00.002+00:002016-01-31T01:49:30.296+00:00Por culpa de alguém, não aprendi a amar a rotina. Desassossegam-me os dias iguais, por dentro e por fora. Desassossegam-me os dias funcionais, e a poesia a fugir, abandonando-me na esquina das coisas para fazer. Nunca quis ser uma pessoa das coisas para fazer. Anoiteço das cargas de trabalhos e não encontro os sonhos. Acho que começo finalmente a perder a minha eternidade.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5403378343588416570.post-88344116183397123512016-01-29T02:21:00.001+00:002016-01-29T02:24:41.475+00:00Não param quietas, estas cachopas de hoje em dia! Primeiro dizem mal de toda a gente, depois querem ser amigas de toda a gente, e não há quem aguente tanta guerra e tanta paz. É a bipolaridade social. E enquanto elas se divertem assim, eu entretenho-me a esgueirar-me das amizades feitas em cima do joelho, só porque estamos todos no mesmo sítio e será suposto convivermos uns com os outros nos tempos de lazer.<br />
Uma hora de descanso e vou a correr para os meus braços, embalo-me no silêncio que me pacifica, divido a minha refeição com as aves do jardim zoológico e sorrio para o pato gordo que não arreda pé da mesa onde me sento, sempre em busca de mais um pouco de pão. Ficamos ali os dois, tão demoradamente quanto me é possível, e convivemos no silêncio que se transforma numa forma de entendimento entre espécies distintas. Adoro patos nas horas de descanso, ... e eles a mim, numa amizade instantânea, em que é possível não dizermos mesmo nada, e estamos bem. <br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05782529048958003124noreply@blogger.com2