Nunca
me tinha ocorrido antes como a intimidade pode vir da ficção, mas pode.
Há um momento da nossa vida em que somos tão íntimos,.tão íntimos, que
nos telefonamos a propósito de nada. É o caso de um amigo, que
ultimamente me telefona para me contar os seus sonhos. E eu escuto-o
atentamente, porque de repente me parece que tão digna de atenção é a
realidade como a ficção.
Sabes Zu, hoje sonhei que
tinha um hotel e que a recepcionista não tinha orelhas a medir. Atendia
telefonemas a trás de telefonemas, e cada trim era uma reserva.
Olha que bom, vês? E depois?
Depois acordei!
E o hotel? Nada?
Rimo-nos bastante, porque ser amigo também é rirmo-nos com as nossas tolices.
Depois vem a minha mãe, com quem me tenho alargado bastante nos temas de conversa.
Sabes filha, agora ando doida é com o lince Ibérico,...
Ah sim?! Então?
É. Começo a falar com ele em Espanhol. Ele não me diz nada, mas fica muito agradado de eu falar em Espanhol com ele.
Mas isso foi quando?
Tás parva? Foi esta noite. Sonhei com o lince Ibérico. Estou apaixonada
por ele. E ele deita-se ao meu lado e eu digo que se chegue para lá.
Hum,... não digo, mas serão as saudades do gato zaragateiro que te
trouxe da união zoófila, aquele das orelhas dentadas em sinais de
rebeldia, que dormia ao teu lado e,.enquanto isso, se convertia na alma
mais pacífica da tua casa,...
Apetece-me de repente sonhar, mas um
sonho forte que encha os bolsos do meu amigo de moedinhas, um sonho que
encha também de afecto o coração da minha mãe,...
Já sei, esta
noite sonharei que o meu amigo tem um hotel de animais em Lisboa, com
vista para o Cristo-Rei, e a recepcionista vai receber uma chamada de um
lince Ibérico, reservando a suite presidencial para a lua de mel da sua
filha, que se casará no dia 8 de Agosto. Não. já sei. Reservará também
uma totalidade de 9 quartos, para os convidados que vêm de longe.
Depois convido a minha mãe para beber uma cerveja preta na esplanada e
ela conseguirá ver a miss lince Iberica, passeando-se com seu noivo de
braço dado, seguida dos convidados e do fotógrafo que registará aquele
momento diante dos nossos olhos, ali mesmo, no Miradouro do Adamastor,
enquanto matamos a sede e enchemos a boca de espuma fresca.
Amanhã,
serei eu a telefonar-lhes contanto o sonho em jeitos de realidade e,
quando perceberem que lhes falo de ficções, voltaremos à risada,
como.sempre,... e talvez eles compreendam que a amizade não dorme.
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