sábado, 11 de junho de 2016

Olho para ti, e és a possibilidade de frescura das alfaces citadinas. Gosto do que tu dizes,... que te apresentas neutra porque não te interessa que te sintam. E que uma mulher sensual é uma mulher que está confortável. Vem-me à cabeça uma coisa muito estúpida, como se fosse suposto que falasses e eu me lembrasse de situações pouco condizentes com a abstracção das ideias. Vem-me à memória o dia em que decidi que os sapatos têm que estar de bem com o pé. Sempre. Não sei se esse é um dos atalhos para a sensualidade. Não me interessa a sensualidade. Apenas o conforto. Tu que não te sintam,... eu que me conforte,... as coisas que nós valorizamos.
E somos mulheres assim. Sentamo-nos na treta no degrau de uma casa, vamos dizendo coisas que nos passam pela cabeça, e não nos estranhamos com isso, exactamente como as pessoas que se conhecem há muito tempo.
Não estava previsto seres uma velha de chinelos, mas se calhar vais ser uma velha de chinelos,... rio-me contigo, para que não te assustes. Coisas que tu dizes da boca para fora, como se não te conhecesses desde sempre. Para mim, tu serás uma velha guerreira com a sua cota de reforma, e gostarei de te ver, também assim.
Faço-te um cigarro. Faço-me um cigarro. Mantenho o isqueiro na mão, para que nos irritemos o menos possível com o murchar de todos os fogos.
Dizes-me que te acompanhe, e eu vou. Trazes na mala ração para gatos e empoleiras-te nos muros para os alimentares. Há ainda a gatinha mamã que come Royal Canin, repasto escolhido por ti com carinho, porque uma mãe é uma mãe. Eu sei.
Pela primeira vez, os gatos da minha rua não me estranham. E eu gosto de ser próxima de repente, ainda que a razão seja o interesse deles.
Fica então prometido um copo de vinho, e eu dou por mim na esquina da minha rua a ver-te sumir, degustando ainda a delicadeza dos teus gestos, enquanto espalhavas amor pelas calçadas. E, de repente, sinto paz.