segunda-feira, 14 de março de 2016

Agora não estás, exactamente como nunca estiveste, e eu pergunto: o que faria eu sem ti?
O mesmo de sempre, pelas esquinas de uma liberdade quase absoluta.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Hoje, no Chiado, estavam fortes, as comemorações do dia da mulher. Uma resma de outdoors em volta da estátua de Camões, histórias de mulheres que deixaram de respirar, vítimas de um tempo em que se celebra num dia a existência das pessoas, e nos dias que se seguem espancam-nas até ao esbater do mais assustado dos ais. As vítimas de maus tratos, ali expostas as histórias que se resumiram precocemente no tempo , as fotos dos cenários possíveis, o quotidiano do nosso século a jorrar História numa das praças mais movimentadas da cidade.
Vinha depois a menina que oferecia flores rechonchudas a todas as mulheres que passavam, mas o Camões estava triste, como um cemitério no meio da capital, e a gente passava por ali, lia uma ou duas histórias e não queria ver mais, apressava o passo como quem de repente deixou de ter algo para comemorar, e interrogava na mudez gelada o que é esta coisa de ser mulher, o que é esta coisa de ser pessoa, e ao que andamos nós aqui.

terça-feira, 8 de março de 2016

Que saberás tu agora do medo de não existir? Terás tu o medo que eu tenho? Sentirás tu que a tua ausência será a nossa ausência e a minha eterna e dorida dormência? Sinto-me mãe através de ti, e não é essa patetice das impossibilidades cronológicas, mas a doidice de querer segurar-te na mão e assim impedir que tu partas, é este desejo de falar-te mansamente e perpetuar o sorriso que nos isola do mundo, como só nós sabemos da existência de uma e de outra, árvore de um único fruto.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Ausento-me alguns dias para pensar na vida, e não consigo pensar muita coisa de jeito, porque vejo poucas coisas que jeito tenham.
Mantenho ainda os amigos, que me aturam umas vezes com prazer e outras vezes por uma espécie de fidelidade que os impede de me mandarem bugiar. Se não fossem os amigos com quem desabafo sobre as ausências inconcebíveis e as existências abomináveis, nem sei de quantos manicómios me veria já escorraçada.
Vivam então os amigos, os que se desnorteiam pelos acontecimentos que os põem tristes e aflitos, mas que têm tempo para mim; os que estudam que nem uns desalmados e que nos intervalos das sapiências continuam a achar que falarmos ainda é uma boa escolha; os que me enviam mensagens quando eu estou distante e me fazem acreditar que torcem por mim; os que desejam que a força esteja connosco; os que se riem comigo nos intervalos das sofridas dúvidas amorosas; os que já não estão por aqui mas que renascem sempre que me fazem pensar que o mundo seria bem pior se não nos tivéssemos cruzado nas ruas deste planeta; os que acreditam   que um sentimento bom e a partilha dos momentos ainda é a forma mais possível de estarmos juntos.