Hoje, no Chiado, estavam fortes, as comemorações do dia da mulher. Uma
resma de outdoors em volta da estátua de Camões, histórias de mulheres
que deixaram de respirar, vítimas de um tempo em que se celebra num dia a
existência das pessoas, e nos dias que se seguem espancam-nas até ao
esbater do mais assustado dos ais. As vítimas de maus tratos, ali
expostas as histórias que se resumiram precocemente no tempo , as fotos
dos cenários possíveis, o quotidiano do nosso século a jorrar História numa das praças mais movimentadas da cidade.
Vinha depois a menina que oferecia flores rechonchudas a todas as
mulheres que passavam, mas o Camões estava triste, como um cemitério no
meio da capital, e a gente passava por ali, lia uma ou duas histórias e
não queria ver mais, apressava o passo como quem de repente deixou de
ter algo para comemorar, e interrogava na mudez gelada o que é esta
coisa de ser mulher, o que é esta coisa de ser pessoa, e ao que andamos
nós aqui.
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