domingo, 6 de maio de 2018


Foto de Zuraida Guedes.


Nunca viajo sem a minha máquina fotográfica, companheira garantida de todas as viagens.
A Turquia foi o país em que fiz menos fotografias, porque eu viajei com a ideia de que me encontraria com uma cultura completamente diferente da minha. Uma simples fotografia poderia ser uma ofensa e eu, o que mais queria nesta viagem, era estar em paz com o mundo..
Do que eu não suspeitava, é que o mundo vive tempos em que as culturas convivem de uma forma descontraída, à força de andarmos todos aos pinotes de terra em terra. E isso fascinou-me. Passeamos pelas ruas, e o mundo está receptivo à diferença, cioso de diferença!
Esta ideia que eu levava de que talvez fosse provável não dever fotografar tudo o que eu queria, abriu-me muito a mente ao contacto com as pessoas. E esta viagem à Turquia permanecerá muito mais em mim como uma memória das emoções do que vivi com os outros do que nos momentos de solidão dos cliques das fotografias.
Na primeira manhã, pus-me num frenesim interior a subir uma rua que me levaria ao Grande Bazar. Estava excitada por ir ao Grande Bazar, acho que exactamente como me excitava em miúda, em vésperas de excursões de escola primária.
A rua que me levou ao Grande Bazar era comprida, um pouco menos íngreme que as ruas do bairro alto, e cheia da vida das pessoas que têm como profissão não pararem sossegadas.
Biron, biron, biron,... era a palavra de ordem dos empregados das esplanadas.
Biron, biron! Where are you from?
From Portugal!
Tia, tu Cristiano Ronaldo?
Si!!!
Yo Slimani! Tu conoces Slimani?
Rimo-nos. Rimo-nos muito. Estavam feitas as apresentações, Portugal versus Argélia, em plena rua que vai dar ao Grande Bazar da Turquia.
Por momentos esqueci-me do Bazar e deixei-me convencer que era ali mesmo que eu ía comer o melhor quebab do mundo. Não foi. O melhor quebab do mundo eu como-o em plena Almirante Reis, num restaurante de um turco e de uma indiana. E nem há discussão!
Slimani trouxe-me um jarrinho de ayram enquanto esperei pelo quebab. Não sei se me fascinei por ayram ou pelo jarrinho estiloso em que era servido. Ou talvez a falta de cerveja me fizesse sentir naturalmente convertida àquela bebida estranha.
Slimani dividia-se entre os biron que gritava ao mundo e a minha mesa.
Sim, tinha tabaco português. Dei a Slimani o meu último Camel e ele, agradecido, tirou uma pulseira de couro preto do pulso e estendeu-ma. Aceita. Uma recordação minha para ti.
Diz-me onde posso comprar tabaco e quanto custa um maço.
Eu fumo Camel e custa 10 liras.
Fui à loja que Slimani me indicou e voltei sem o tabaco.
Tu sabes que me pediram 35 liras por um Camel?!
Dá-me 13 liras que eu própro to compro.
Slimani tinha-se esquecido que me tinha dito que o maço custava 10.
Compreendi naquele momento que eu iria aprender na Turquia a ficar feliz cada vez que achasse que tinha sido pouco enganada.
De repente fazia-se tarde para chegar ao Bazar, porque tinha outras cores, outras formas e outras gentes para aprender.
Fui. Fui sem ficar ressentida com Slimani. E essa foi a primeira novidade sobre mim.

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